Bom, já deu para perceber que não consegui continuar no dia seguinte. É engraçado essa sensação de estar conversando com ninguém que rola quando estou escrevendo aqui. Principalmente por não ter uma frequência nas publicações, acho que algum aventureiro que por acaso aparecer aqui vai acabar desistindo na próxima visita em que ele verificar que está tudo igual como era antes.
Bom, o que eu estava falando antes sobre a adoração meio que incondicional pela inexplicabilidade da arte, sempre me incomodou e agora mais recentemente tem incomodado mais ainda. Isso porque atualmente (nos últimos 10 anos pelo menos) eu tenho me envolvido muito com projetos culturais, essencialmente filmes, e também projetos relacionados a política cultural.
E se tem uma coisa que é irritante (ou talvez não irritante, mas incômoda) é quando alguém está apresentando uma justificativa para a necessidade de determinado projeto cultural e a argumentação é completamente vaga, cheia de floreios filosóficos que seriam lindos como uma obra de arte, mas meio que ineficientes como estratégia de convencimento, principalmente quando envolve uma maior quantidade de recursos.
Todo mundo sabe que a arte é importante, e todo mundo, mesmo que não admita, sente a sua falta, mas ela sempre fica associada mais a momentos de lazer e-ou prazer do que a algo mais indispensável para a sobrevivência.
Há pouco tempo atrás, em um projeto que propunha a criação de uma Agência Nacional do Audiovisual, já era evidente essa carência de argumentação. Enquanto os artistas gritavam que a arte era "essencial para o desenvolvimento do espírito humano", o presidente da Globo bradava que o projeto geraria um prejuízo de X milhões de reais por Mês. E o projeto foi, obviamente, massacrado pelos grandes milionários da produção audiovisual do país e fora dele.
Nosso ex-ministro da cultura Gilberto Gil certa vez disse que "o povo sabe o quer mas também quer o que não sabe". Isso, além de ser de uma beleza e de uma precisão extrema, diz muito do sentimento nosso com relação a todas as formas de arte.
Mas como fazer para convencer algum líder político, com toda a sensibilidade de um tiranossauro rex, que, ao invés de construir 50 escolas ele deve gastar esse dinheiro com a produção de um filme de longa metragem, a construção de um museu ou o apoio a um festival de música?
Eu sei que já deve ter gente irritada com o que estou dizendo aqui (pressupondo que alguém esteja lendo isso), mas eu já vi várias pessoas que vivem de fazer arte e que também acham que a arte realmente não é tão necessária assim.
Como eu sou radical nessa posição de que a arte deveria estar incluída na pirâmide de necessidades essenciais humanas, em algum lugar entre a necessidade de alimentação, sexo e abrigo, acho que a abertura de uma possibilidade maior de argumentação quando estivermos defendendo nossos trabalhos pode ajudar a mudar o rótulo de "Malucos Aventureiros que não Querem Trabalhar" pelo de "Malucos Aventureiros que Querem Muito Trabalhar".
E embora eu saiba que, com esse documentário, não vamos escrever uma tese de mestrado com todas as respostas sobre a inevitabilidade da arte, eu tenho certeza de que na convivência com um artista que consegue conciliar tão bem o prazer e a felicidade pela vida com um complexo trabalho de criação, como o Fernando, nós vamos dar um enorme passo em direção a uma melhor compreensão de nós mesmos.
É claro, pressupondo que consigamos transformar esse documentário em algo que vá além do óbvio fácil e previsível. O que já é uma outra aventura.
Carlos Canela
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