sábado, 2 de agosto de 2008

Começando a Filmar (gravar)

Bom, um mês é tempo prá caramba de uma postagem para a outra, e, embora eu tenha mil desculpas prontinhas para justificar a pausa, não vou usar nenhuma. Afinal, isso já é assumidamente, um pós-blog de filmagens já meio torto de nascença.

Desculpas à parte, começamos finalmente a gravar (Ou filmar, como preferirem). Aliás, existe uma briguinha chatíssima entre produtores audiovisuais puristas que insistem em distinguir "filmar", quando se usa película e "gravar" quando se usa vídeo. Pouco me lixando prá regras, eu prefiro usar Filmar para ambos os casos, sem muita explicação. Mas já querendo explicar um pouco, eu acho que Gravar acaba ficando meio genérico para imagem, som, arquivos, etc, dado as origens latinas (ou gregas, sei lá) da palavra.

Não sei se dá prá perceber que sempre tem uma enrolação antes de cair no assunto tema da coisa. Acho que é porque sempre os bastidores, o por detrás das cortinas, é mais interessante que o tema em si.

Bom, dia 13 de janeiro começamos a filmar (gravar). Além do desconforto inicial da sensação primeira de desconfiança básica que rola quando se conhece alguém pela primeira vez (tanto do Nando com relação à gente e a gente com relação a ele), carregávamos conosco também uma sensação meio de culpa, já que o Nando estava com febre e se sentindo muito mal.

Aliás, um detalhe muito importante que não posso deixar de mencionar e que será um fator importante no desenrolar da montagem e na própria essência do documentário, é que o Nando nasceu com uma certa, digamos assim, desvantagem física que os médicos chamam de Moléstia Azul. Algo relacionado com a clássica função do coração (além de sustentar paixões) de filtrar o sangue que vai de um lado para o outro. Sendo mais claro (mas nem tanto, pois até hoje não entendo muito bem o que acontece), o sangue não é filtrado direito.

E essa doença é algo tão sério que hoje não existem (ou quase não existem) adultos com essa doença pois atualmente ela é diagnosticada e resolvida no bebê e as pessoas que tinham essa doença antigamente (e não se chamam Fernando Fiúza) parece que não conseguiram achar a chave do prazer intenso pela vida que os faria, além de todas expectativas, sobreviver.

Eu sei que parece um pouco estranho sabermos tão pouco de uma doença que esteve sempre tão presente na vida de alguém que estamos documentando (algo que cheira a amadorismo) mas na verdade prá gente basta a informação de que ela existe, que é séria e que existe muita vida apesar dela.

E aí que chegamos a onde eu pretendia quando disse que essa informação é importante, pois ela nos remete ao âmago do que pretendemos: escarafunchar (que é uma palavra que nem sei se existe mas que tem uma função genérica maravilhosa) qual é a função específica da arte na nossa busca pela vida.

Existe na sociedade humana (logicamente, pois animais felizmente ainda não se aventuraram na arte - o que é, aliás, uma boa pista) uma espécie de sacralização da arte e uma espécie de mistificação, uma idolatria meio que descontrolada do seu caráter meio que inexplicável. E isso me remete inexoravelmente (tenho que admitir, essa palavra eu tive que confirmar no dicionário prá ver se eu não estava falando bobagem - traduzindo: inflexivelmente - continuo sem ter certeza se ela serve) a uma sensação que tive quando perguntei à líder do grupo jovem da igreja católica que eu fazia parte (sim, cheguei até a rezar terço para doentes em hospitais): o que era fé.

Mais uma coisa que acabo de descobrir relendo o que havia escrito: esse blog é nada mais nada menos que um divã, prá poder desabafar e conseguir encontrar o fio condutor (ah, o velho fio condutor...) do que o documentário irá se tornar.

É mais ou menos o Fernando jogando pinceladas de tinta aleatórias na tela terrivelmente branca, buscando no vazio explícito, o grito que vai aliviar.

Esse papo já tá pedindo uma cerveja e como agora estamos proibidos de nos embriagar, vou me retirar, porque tem um divã me esperando em meu caixote particular. E, prá continuar a rimar, vou tentar, amanhã, continuar.

Canela(r)

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